terça-feira, 30 de dezembro de 2008

MATERNAL














Não
.
Não
Vivo
Em
Vão
.
Sou
Mais
Sou
Tão
Sou
Tao
Sou
Tom
.
Sou
Mãe

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

LIBERTAÇÃO

Minha alma é livre,
comum verso branco de Mallarmé.

Não se prende em vôos que não são seus
asa em surdina mensageira.

Agora é hora:
lançar-me em novos
alçar desconhecidos
adejar no espaço.

Bem-vinda
eu ao
que
me
é
devido.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CONSPIRAÇÃO

O que me inspira
às vezes me
pira.
Cospem-me fogo
coisas que aqui constam.
Essas que por
si só
São.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

TEMPORAL

O sol surgente seca os trêmulos fios de luz caídos na nesga negra molhada da noite.
O fulgor da pulcritude arremessa sentimentos contra o tempo, lamentos que não dormem à espera de açoite.
Existem balões no céu, aos montes. Desejos alguns, talvez esperanças. Solicitações e memórias caducam milagres em pontas de foices.
Tão logo se chocam provocam tempestade forte e breve. O temporal leva a alma e lava o que já não era.
A calma volta intacta, como depois de um coice.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

PLURAL

A lesma desenha
no asfalto quente
um rastro redondo, cintilante, fulgural.

A fumaça borda
no céu ausente
um lastro plúmbeo, instigante, chemical.

As janelas acendem
no edifício dormente
um mastro indefinido, mutante, referencial.

Em todos os cantos a poesia da cidade me grita.
Sua forma é presente.
Sua norma, plural.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NINGUÉM SABE, NINGUÉM

Atendendo a pedidos, estou postando novamente uma das minhas músicas aqui, a minha primeira composição. Dessa vez, vem acompanhada da letra, para se ler enquanto se escuta... A gravação é muito antiga e não dá para escutar direito, mas pelo menos agora dá para entender tudinho...




A rua a buzina o pó a fumaça a sujeira a dó carros vão e vêem pessoas vão e vêem
Os meninos sujos a cola pulmões pulsam miséria braços e pernas braços sem pernas
esmola

Tetos alças e alçapões concreto asfalto multidões muito pra iludir tanto que mentir algo a se sentir
louco

Metrópoles atropelam a mente
E ninguém sabe
Ninguém

sábado, 18 de outubro de 2008

AUTORA CONVIDADA - PAULA CAJATY


Poesia pra quê?
Paula Cajaty

Poesia para encontrar,
para ouvir, para afundar.
Poesia quando nada mais há
e sobra apenas um fio
de razão para agarrar.
Poesia quando se quer dormir
mas não se acha lugar.
Poesia feito cachaça
bom para tomar no frio
bom para esquecer o fastio
bom para quem se dá.
Poesia feito música
e tocar fundo
e encher o peito
de silêncios
desses sons do mundo
que não páram de tocar.
Poesia feita de palavra
que paira no ar, arteira
quer sair, fugir pela fresta
na beira da fantasia
quer virar verdade
e de algum jeito, qualquer um,
mesmo feito tosca miragem,
existir como a gente.

Eu não faço poesia, Sofia,
é ela quem me faz.

(...) ... (...)

Conheci a Paula pela internet, quando comecei a fazer esse blog. Ela também tem um site dedicado à literatura e à poesia, que já foi referenciado pela Agência Riff e pelos escritores e poetas Marcelo Moutinho, Fernando Molica e Márcio-André.Com um jeito de escrever que me emociona sempre, Paula escreve desde que amou pela primeira vez, como revela na apresentação do seu primeiro livro publicado em setembro pela 7Letras, "Afrodite In Verso". Advogada por formação acadêmica, ela sempre encontrou na literatura um caminho para alcançar seus próprios sonhos e prazeres. Em seus projetos para o futuro, estão a realização de ciclos de palestras com temas voltados para o universo feminino e a exploração de outros formatos literários, como o conto e o romance.

Obrigada Paula, pela linda contribuição!Como você disse no seu site, que alcance sempre o sucesso a literatura de gente que acredita na 'poesia do encontro'.

sábado, 11 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

INSPIRAÇÃO

Brota de dentro
vem com o vento
bate e rebate tantas quantas precisas vezes
em busca de um arremate
palavra solta frase feita
fruto de bruta imagem
linhagem perfeita
lista diária montada sem régua
luta diária travada sem trégua
pista diária seguida sem regra
fato contrário arbitrário extra-ordinário
supra-ordinário superordinário
tanto faz
faz de conta pronto para entrar em cartaz
dado concreto nada discreto secreto
requinte sonhado administrado
requinte proposto administrável
ferimento imposto íntimo e secular
intervenção divina providencial não habitual
hábito louco realismo tosco reinventado
idade desconstruída já pré-estabelecida
cidade situada sitiada
sítios arqueológicos revisitados
invenção pura dura realidade insegura
sofrimento acentuado em busca de cura
tormento tolerado reconfigurado
construção invadida inacabada
rito perdido mito desfigurado
cisco revisto atrapalhando a vista
revista aberta de consultórios odontológicos
lógica criada atormentada combinada.


Assobio interno que grita e pulsa
expulsa e apita o que está regurgitado.



A vida não precisa de explicação.
Só de inspiração.
E de algum mal-estar de vez em quando enquanto se devolvem às coisas o seu lugar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

TUDO VAI FICAR MAIS VERDE






No dia 23 de setembro, foi plantada a 'árvore fundamental' do Canal Verde. Já falei sobre ele aqui antes e vocês sabem o quanto esse projeto é importante pra mim. Não só para mim, também para o planeta e para a preservação da vida e do verde.
O bom é que agora esse canal está no ar, à disposição de todo mundo: www.canalverde.tv.br.
E o legal é ver o envolvimento de pessoas tão bacanas e queridas, pessoas que acreditam em um ideal e sabem que a construção de um mundo melhor depende de cada um de nós.
No site vocês poderão conferir alguns roteiros meus, como o programa 'Priscila no país das Maravilhas', apresentado por Priscila Fantin, que,aliás, é uma pessoa especial e super profissional. Acessem!

OPOSIÇÃO

Onde eu me perco é que me acho
Onde eu me acabo é que começo
Onde tropeço é que eu não caio
De onde eu saio não entro
Quando erro é que eu acerto
O que está longe eu faço perto
Quando me prendem, faço-me vento
Eu faço muito em pouco tempo
O que não suporto eu agüento

Enquanto estou triste, contento


CONTINUAÇÃO

Tudo o que gosto, deixo livre
O que eu rego, sobrevive
Sobre a vida, ando solta
O que desejo, vem de volta
À minha volta, planto cores
Se colho dores, coloro pausas

(continuar é preciso)

Enquanto estou triste, contento
Contudo, meu riso é mudo
Mudo de humor como de roupa
E deixo livre tudo o que gosto


(...) ... (...) ... (...)

Há tempos venho querendo postar coisas novas aqui, mas tenho andado muito sem tempo ultimamente, envolvida em trabalhos e coisas afins...
Mas como tenho um monte de poesias em meus arquivos, vou postando-as uma por uma aqui, aos poucos. Afinal, o que é velho para mim é novo para muitos de vocês. Na verdade essas duas nem são tão antigas assim, fiz no ano passado.

E elas vão especialmente para a Bel ;-)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SITUAÇÃO densa e intensa
propensa a virar
poema

SITUAÇÃO típica e crítica
propícia a virar
cinema

SITUAÇÃO difícil e imposta
disposta a virar
dilema

sábado, 13 de setembro de 2008

DESCREVENDO-ME

Passo a vida a limpo.
Com o lápis na mão,
me defino numa folha nova de papel branco.
Palavras foram feitas para serem lidas,
ou ditas.
Minhas palavras são desabafos,
terapeutas incondicionais,
alimento.
Vou escrevendo e me descrevendo,
e me desfazendo do medo e das máscaras.
Crio minha imagem e recrio minha vida.
Interpreto minha peça,
sem nexo.
Analiso personagens,
desconectos.
Fantasio emoções,
e o sexo.

Crio um amor,
complexo.
Descrevo o amante,
completo.
Sinto seu toque,
por perto.


Se o mundo é noite escura,
pinto-o de cor-de-rosa,
e vivo meu conto de fadas,
escrito em forma de prosa.


(...) ... (...) ... (...)

essa é antiga, talvez mais de dez anos. outro dia uma amiga estava perguntando se eu escrevia para desabafar. acho que algumas vezes sim, mas talvez isso poderia ser mais notado no início, como nessa poesia. agora nem tanto. de certa forma tento estar mais ligada ao verso, à palavra, à metalinguagem. venho tentando descontruir a mim mesma.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

MUSICAL



A música vive dentro de mim.
Meu coração pulsa ritmado.
Meus passos seguem um compasso.
Meu rádio relógio cerebral me acorda
todo dia da mesma forma melódica assim.

Minha voz não alcança notas altas e desafina
desafiando minha íntima vocação de diva cantora.
Não choro por isso.
Por mim cantam meus escolhidos.
Só faço coro.

Libélulas flamejantes batem
asas em minhas células internas e externas
que voam num ritmo alucinantemente exótico.
Só meu.

Quem quiser que me acompanhe.
Ou me arranhe.

sábado, 6 de setembro de 2008

Mãe coruja


Ele não joga lixo no chão.
Ele fecha a torneira ao escovar os dentes.
Ele é carinhoso.
Ele levanta da cadeira para eu poder sentar, se não tiver outro lugar disponível.
Ele gosta de dar presentes e de mandar flores.
Ele está cada dia mais lindo.
Ele me beija quando estou triste.

Os filhos são o que nos redime no mundo.

É pelo João que eu acordo todos os dias e me inspiro e me alegro e me animo.

Pra ele escrevi O menino revirado.
Pra ele escreverei muito mais e lutarei todos os dias. Sempre.

Cada dia que passa eu me orgulho mais dele. Por estar se tornando o menino maravilhoso que é. O meu menino revirado.

No dia 31 foi aniversário dele. 31 de agosto.
No mês em que algumas pessoas apontam desgostos e azar, eu só tive motivos para comemorar.
Dia 02 nasceu meu pai, dia 10 minha mãe. No dia 28 tia Lau. No dia 31 o João.
Pais, amigos queridos, filho.
De onde eu vim e para onde eu vou. Tudo junto no mês de agosto.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

ADIÇÃO

Eu sou tão você é tao.
Sou cão, você pardal.
Sou algodão, você temporal.
Sou tesão, você sentimental.

Prefiro a paixão, você é casal.
Sou intensa, você transcendental.
Sou pimenta, você sem sal.
Sou da paz, você irracional.

Me visto de pavão, você usa o habitual.
Gosto de cores, você tom sobre tom.
Espero flores, você acha banal.
Combino coisas, você é anormal.

Finco os pés no chão, você vive no céu.
Sou razão, você emocional.
Sou do bem, você não me faz mal.
Sou sem sentido, você sensacional.

Dou testada e sou aprovada, você é experimental.
Prefiro a cidade, você arraial.
Vivo no caos, você é pontual.
Você é um só, eu sou plural.

Eu sou tao você é tão.
Se a gente inverte a posição de quando em vez,
a ordem dos fatores nunca altera o resultado do produto.
O total é sempre dez.

(...) ... (...) ... (...)

às vezes as somas não soam assim tão redondas , então é preciso cortar as arestas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

OPÇÃO


( ) De repente a fagulha se acende
quando você está no meio da ponte.
A opção é voltar para trás.
Atravessar um rio de águas turvas
não se faz em um único instante.
E a qualquer hora a bomba
inclusa em seu coração se explode.

( ) De repente a fagulha se acende
quando você está no meio da ponte.
A opção é se jogar na corrente.
Atravessar um rio de águas caudalosas,
ainda que claras, não é coisa assim tão distante.
Cuidado: a vida é pura dinamite.

( ) De repente a fagulha se acende
quando você está no meio da ponte.
A opção é seguir adiante.
Atravesse o rio em disparate.
A correnteza pode te levar,
se a dinamite se explode.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

ANORMAL

Não me interessa o que é reto, resto,
certo, confesso.
Mas o que escapa do dia-a-dia fugidio.
As vicissitudes da vida.
Embora eu teime com meu tema atemático
matemático,
caleidoscópio ambulante que calcula a visão,
cópia caudalosa de meus cabelos ao vento,
foto impregnada de íntima memória.
A normalidade enfraquece o que está por vir,
e a poesia quer-se quente.
Jogo lenha na fogueira, mas não qualquer uma:
combustível fóssil, óleos que não viram tudo,
e, sobretudo, agora e sempre,
a pureza ainda não extraditada de seu estado virgem,
e o primitivismo não contaminado pela vontade da normalidade.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

CAMINHÃO



Não ando sozinho.
No caminho
levo os passos
dos meus pais,
do meu filho,
ancestrais.
Não importa a forma de locomoção.
Se é reta, curva,
Et cetera e tal.
Sigo os traços que aprendi,
normal ou anormal.
Posso mudar o destino,
encurtar as retas,
destoar as metas,
duvidar do prumo,
parecer sem rumo.
Há sempre que chegar
a algum lugar.
Na bagagem,
tanta bobagem
em compartimento especial.
Mas caminhão de mudança
apenas suporta esperança.
Nasço descalço
e no caminho, quantos percalços,
eu nunca chego ao fim.
Na maioria das vezes eu me perco de mim.


O caminho não é curto pra ninguém.
Ele é grande. É gigante.
Tal qual o mundo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

AUTOR CONVIDADO - JOÃO LENJOB


Poesia Pra Quê?
João Lenjob

Poesia pra quê?
Para parar no papel o amor que não tem fim
Para parar um pouco com a vida que continua, ou não,
Para deixar lágrimas que não molham ao escrever
(não borram, não embaçam, nem mancham);
Sobretudo poder molhar os olhos de quem lê.

Poesia pra quê?
Para expressar um sorriso que não tem dono (ou terá; será?)
Poesia para juntar forças ou talvez separá-las
Para montar um quebra-cabeça ou desmontá-lo
(ou apreciar ou ficar com preguiça até de olhar)
Para pular, brincar, voar, matar, morrer e até ser Deus.

Poesia pra quê?
Escrever pra quê?
Para legar, eternizar, legar, justificar ou tentar
Escrever pra lembrar
Escrever pra esquecer.


(...) ... (...) ... (...) ...

O João é um amigo de longa data, conterrâneo de Nova Era. Na nossa adolescência, sempre conversávamos sobre poesia e literatura. Quando eu vim para BH acabou que gente perdeu o contato e tinha uns oito anos que não o via. A internet promoveu o nosso reencontro e depois de tanto tempo foi ótimo saber que tudo aquilo que a gente sonhava (lançar livros, viver de literatura) de certa forma aconteceu.
Tudo bem, eu ainda não vivo de literatura. Nem ele. Mas a gente trocou livros: ele ficou com O menino revirado, infantil que lancei no ano passado, e eu fiquei com Cavalo Livre de Tróia, livro de poesias que ele também lançou em 2007.

Eu sei que na nossa vida muitos lançamentos ainda irão acontecer!

Quem quiser conhecer o trabalho dele, segue a dica: http://lenjob.blogspot.com/

quinta-feira, 31 de julho de 2008

VÃO

Pelo vão incoberto de sua aura
é possível perceber
o que se passa por fora do campo
imagético de sua visão.

Sentimentos loucos, devaneios muitos,
arestas cortadas que se querem inteiras.

Deixe entrar o que lhe basta.
O que espoca em seu coração.
O que causa furor na alma
e arrepios na auréola.

O que lhe escapa não lhe serve.
Deixe-se ir.

Pelo sim,
pelo não,
existem os que ficam,
e os que se vão.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

ACIDENTAL


Dentro de casa uma lagartixa de rua.
Não daquelas que sobem pelas paredes,
quase transparentes, faxineiras e ajudantes.
Não daquelas que se equilibram no teto
e passam longe do tato.
Esta - ligeira, faceira, arteira. De rua.
Altiva, atrevida, impossível de encarar.
Entra e sai debaixo da cama, vãos de sofás, frestas abertas, esconderijos encobertos, aqui e lá.
Corro atrás dela, não tenho medo. Asco não tenho.
Quero capturá-la com minhas próprias mãos.
Sentir na pele o regozijo de um predador.
Mas não sou tão ágil, nem tão pequena.
Minha natureza não me designa tamanha estripulia.
Ela foge de mim. Parece sorrir em seus olhos semicerrados.
De relance, vejo sua cauda – cortada.
Aliás, acho que não tem cauda.
Como será sua vida lá fora?
Foge de gato, toma sol no asfalto, alvo de brincadeiras infantis.
A cauda? Certamente perdida para algum estilingue ou pedra, maldade ou acidente.
Lembro-me de uma batida de carro, quase levou-me a vida e os movimentos há dez anos atrás. Fico com dó.
Dela e de mim.
Depois me recomponho.
Ela se recompõe melhor do que eu.
Sua cauda se regenera rapidamente - daqui a pouco cresce de novo, e garanto que já nem se lembra o que lhe aconteceu.
Já eu estou aqui, ainda traumatizada por um acidente que me levou algumas coisas.
A visitante oportuna corre para outro lado da casa.
Eu não corro mais atrás dela.
Agradeço-lhe a descoberta acidental.
Meu corpo pode até não se regenerar.
Minha alma é como cauda de lagartixa.


... (...) ... (...) ... (...)

Outro dia João Gabriel levou uma lagartixa para dentro de casa. Trouxe da rua. Ela ficou lá três dias, não conseguíamos pegá-la para colocar pra fora... Dessa luta surgiu essa poesia.

domingo, 13 de julho de 2008

TUDO E NADA

Quero ser enorme, quero ser grande.
Maior que o mundo, maior que o espaço
incompleto, infinito, incorruptível, inconstante, interessante.
Quero ser grande.

Quero fazer um filme.
Quero escrever, atuar, produzir, dirigir,
determinar, destoar, sentir, chorar.
Quero fazer chorar.

Quero fugir.
Quero uma ilha deserta
incoberta, incólume, intocável, inatingível.
Quero ser inacessível.

Quero descobrir uma lei da Física.
Quero colar, descolar, acelerar, desconcertar, descompassar, descontrolar, frear.
Quero mudar.

E quero mais.

Quero ser tudo, sem ser nada.
Quero ser todos, sem ser ninguém.
Quero ir fundo, e mais além.
E não me chamem de Deus.
Amém.


... (...) ... (...) ... (...)

Esta também é antiga. Na época em que a escrevi estava começando a faculdade e queria fazer tudo ao mesmo tempo.
Bem, acho que eu não mudei muito (rs) ...
Continuo querendo muitas, muitas coisas. Só que agora já realizei um pouco do meu tudo.

sábado, 12 de julho de 2008

AFINAL

Tudo bem, eu posso até não gostar de batom ou maquiagem,
escova nos cabelos, coisa e tal.
Admito: minhas curvas, meus cachos,
minha boca carnuda são melhores ao natural.
Tudo bem, eu posso até não suportar frescuras, pormenores,
securas ou excessos, manhas, artimanhas e gestos ensaiados.
Acho até que em outra encarnação nasci macho escrachado.
Desses que escolhem a mulher pelo brilho dos olhos
pra depois pegá-la de jeito,
sem nunca antes ou depois discutir a relação.
Tudo bem, eu odeio modelos,
perfis fabricados, regras e firulas.
Às vezes pintam pra mim,
mas nunca me enquadro em tal figura.
Mas também tenho meus luxos.
Uma roupa nova, um sapato de salto, uma bolsa da moda, um brilho de paetê. Um banho quente, uma corrente de semente, um perfume secreto que só se cheira em mim.
Eu posso até matar a barata sem dar chiliques,
mas nem por isso escondo meus medos. O fato de comer frango com as mãos não dispensa o lençol de seda de uma noite especial.

Afinal, se divido as contas com você, isso não quer dizer que não espere flores ao final.

CANAL VERDE



oferecemos corpo ao vento
como os pássaros
oferecemos paz ao tempo
como as árvores
oferecemos água ao movimento
como os mares


Fiz esse texto há uns seis anos atrás. Estava me formando e entrei no projeto do Canal Verde, do Robério e do Rafa. O poema finalizava um roteiro.

Quando comecei o curso de comunicação na federal, acreditava no poder da mídia para educação e a mudança de mentes. Enfim,uma forma de contribuir para um mundo melhor. Mas no dia-a-dia eu vi que as forças da manipulação eram muito mais fortes e eu parecia uma idealista sem lugar.

O Canal Verde era uma pontinha de esperança e tinha a ver com tudo aquilo que eu acreditava. Era não. É. Depois de seis anos de batalha (na verdade mais de dez, porque o projeto já existia antes de eu entrar), as gravações começaram hoje.
Eu não pude ir, estou terminando uns freelas aqui em casa, mas de qualquer forma o roteiro é meu e isso me faz sentir um pouco presente lá.

Rafa e Robério, eu sei que daqui a pouco tudo o que a gente sonhou vai ganhar corpo. Porque, como diz Raul Seixas, sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

AUTOR CONVIDADO - ARAGÃO


Poesia pra quê?
por José Carlos Aragão

Eu, na verdade, nunca soube exatamente pra quê.

Só sei que, se Rilke me perguntasse se eu viveria sem ela (como o fez ao ao jovem poeta que lhe escrevera), eu não hesitaria em responder que não.

Encontro conforto, nessas horas de angústia e dúvida, em outros poetas que escreveram sobre a poesia e sua utilidade. Entre eles, Manoel de Barros ("a poesia é antes de tudo um inutensílio"; e Quintana ("a poesia é a invenção da verdade").Mas é bom ouvir também o que dizem Gullar, Drummond e os heterônimos de Pessoa.

E não há como não recomendar também a leitura de Nasce o poema, o último poema do livro Barulhos, de Ferreira Gullar, pra se tentar entender a angústia do poeta diante da poesia em gestação. Talvez o poema não explique pra que serve o poema ou a poesia, mas se a palavra te toca é que pra alguma coisa serviu - sabe-se lá pra quê!...


(...) ... (...) ...

Eu resolvi conversar com outros autores sobre a necessidade da poesia, para o poeta e para os leitores.

Quem estréia essa coluna (se é que se pode chamar assim) é o José Carlos Aragão, um grande escritor amigo meu, aqui de Belo Horizonte.

Mestre das letras, ele é jornalista, escritor, dramaturgo e artista plástico. Tem quase 20 livros publicados: de poesia e contos, para adultos; e de literatura e teatro, para crianças e jovens. Conquistou vários prêmios literários e seus livros encantam adultos e crianças. Vale a pena ler: 'Girafa não serve pra nada', 'O menino que engoliu o quatro' e todos os outros livros dele.

O Aragão ainda me presenteou com uma seleção de textos de poetas famosos sobre a poesia e o fazer poético, que vou publicar aqui aos poucos. Para quem quer saber mais sobre o trabalho dele, é só entrar nos blogs:
aragaoescritor.blogspot.com
aragaohumor.blogspot.com

quinta-feira, 3 de julho de 2008

NINGUÉM SABE, NINGUÉM



Em 1999 eu fazia uma matéria eletiva na faculdade de letras, à noite. Chamava-se Oficina de poesia e o professor era o Maurício Salles. Entre uma poesia e outra que a gente criava, ele propôs um dia que fizéssemos músicas com os nossos textos. Assim nasceu esta música. Eu peguei uma poesia minha, dei uma melodia, e aí pedi para o meu pai gravar com a minha irmã, que tem uma voz linda (eu infelizmente não tenho uma voz tão boa). Foi tudo de improviso e não dá para escutar direito... mas todo mundo gosta.
Até então, eu nunca tinha pensado em ser compositora, apesar de achar que as minhas poesias eram bem marcadas e ritmadas, mas depois desta música eu fiz outras.
Lá em casa todo mundo é músico- meu pai, minha irmã, meu irmão. Menos eu.
Mas no fundo o fato de eu ter crescido em meio a tantas músicas e sons me fez criar uma cultura musical que acabou desabrochando um dia.

E ninguém sabe, ninguém...
quer dizer, ninguém sabia.

terça-feira, 1 de julho de 2008

PALAVRAS


Palavras vagas
parecem nulas,
sonhos distantes,
ou pó.
São tantas falas,
que me afigura,
nada ter dito,
e só.
Palavras loucas
são atrevidas,
fogem da mente
e vão
pro mundo afora
e como agora,
deixam vazio o coração.
Palavras doces
são acalento
e como o vento
inspirarão
toda leveza,
e a beleza
sonhos vividos serão.


Hoje acordei com essa poesia na cabeça. ela é antiga, muito antiga, escrevi há uns doze anos, mas gosto bastante dela. É pura e inocente, talvez reflexo do meu pensamento na época.

sábado, 21 de junho de 2008

ESPIRAL


No fundo
dos seus
olhos
vejo
estrelinhas
que fazem
o meu
nervoso
sistema
rodar
em volta
de palavras
soltas
das entrelinhas
que te
piscam
em
roleta russa.

terça-feira, 17 de junho de 2008

CONJUNÇÃO



No meio das pernas
o sexo.
No meio dos braços
o plexo.
Te abraço.
Te enlaço.
Te abarco.
Te recebo.
Neste entrelugar de conjugações.

Se você cabe dentro de mim
sem ou com fusão
não cabe a ninguém julgar
tal conjunção.

Somos conjunto confabuloso.
... (...) ... (...) ...
... (...) ... (...) ...
A figura que uilizei nesta poesia é um Conjunto de Mandelbrot.
Benoit Mandelbrot foi um matemático que descobriu
a geometria fractal na década de 70.
Fractais são formas extremamente complexas
tanto nos detalhes quanto no conjunto.
Informações e figura tiradas da página:

quarta-feira, 11 de junho de 2008

CONSIGNAÇÃO

De vez em quando te dou
Muitas vezes me empresto
O que é seu eu sou
E o que sou não presto
Depois me pego de volta
Com signos de ação impressos

SIMPLES



Quero coisas puras e simples.
Uma casa com varanda, um quintal com frutas, um marido apaixonado.
Uma escola com alunos, livros e literatura.
E um salário que dê para levar a vida sem preocupações e ostentações.
Quero para mim a feliz rotina de arrumar a casa,
colher as flores, regar as plantas, temperar o almoço.
Depois à noite, perfumar o corpo e deitar de novo com o amante de todo dia.
E um dia, gerar no ventre os filhos desse amor rotineiro.
E vê-los crescendo felizes. E levá-los para passear aos domingos, na casa dos avós.
Quero participar das reuniões familiares, encontrar parentes distantes,
rever primos queridos, comer frango assado com arroz e devorar doces caseiros.
Estranhar a barulheira das crianças e me emocionar com as histórias dos mais velhos.
E ao findar das tardes, discutir sobre os prazeres proibidos,
na rodinha das mulheres casadas.
E sorrir gostosamente uma cumplicidade comigo mesma,
uma certeza de ter prazer na vida.

Quero me surpreender com coisas poucas,
um sorriso, uma rosa, uma palavra.
Quero descobrir a vida todo dia.

De vez em quando eu quero coisas tão puras, tão doces, tão simples;
o mundo todo reside dentro de mim.
Isso me assusta.
Porque ser feliz é simples,
e eu sei.


(...) ... (...) ... (...)


Essa é para você, mãe. Porque me pediu.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Felicidades

Surgiu na minha vida por um acidente de trabalho.
Ungiu sabores de amizade, alegria, lealdade, esperança.
Agiu sempre como um cavalheiro digno de toda confiança.
Parabéns Gil!

Seu aniversário foi ontem, mas as felicidades que lhe desejo são para todos os dias de sua vida.


segunda-feira, 9 de junho de 2008


No filme A Sociedade dos Poetas Mortos, o professor diz aos alunos: "Medicina, engenharia, física, química, são coisas excelentes. Não podemos viver sem elas. Elas nos dão os meios para viver. Mas elas não são capazes de nos dar razões para viver". O que nos dá razões para viver é a beleza.

... (...) ... (...) ...
Poesia pra quê?
Para revelar a beleza adormecida na matéria bruta.

domingo, 8 de junho de 2008

Almoço de ontem



Enquanto eu temperava o feijão lá em casa, ele cozinhava a canjiquinha no sítio.
Preto e amarelo. Gás e lenha. Moderno e rústico. Panela de pressão e panela de pedra. A impressão de que somos opostos se confirmou. O feijão ficou salgado e a canjiquinha sem sal. Mas da mistura dos dois surgiu uma refeição perfeita. Foi só saber dosar o melhor de cada um.

... (...) ... (...) ... (...)
Poesia pra quê?
Para dar mais sabor às coisas simples da vida.

sábado, 7 de junho de 2008

SUBTRAÇÃO









Eu já te sabia
desde o início
todo o final.

Os castelos de areia que construímos juntos
eu vi.

Depois destruímo-nos
e nus deitamos
sobre a
sobra
que presta
quando
subtraí-se
o que em nenhum
dos dois resta.


Frio na barriga, emoção, falta de ar, suspiro, surpresa, vontade de rir ou chorar, desespero, ânsia, saudades, esperança.
Poesia é como um parque de diversões. Provoca tudo isso e muito mais.
Talvez por isso o blog tenha recebido o apelido carinhoso de praque, um trocadilho pertinente de parque.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Transversal




Atravessa-me
as narinas
seu cheiro

Atravaca-me
os sentidos
sua presença

Atropela-me
o juízo
seu toque

O que vem de ti
me atinge em cheio
bem no meio
Do coração e dali

Pego a transversal
querendo sair de mim
pra buscar em não perpendicular
tudo o que me faz perder o ar




Dois e Dois são Quatro

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
.......
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
.......
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
.......
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
.......
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena.......
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
.......
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Ferreira Gullar

Esta poesia de Ferreira Gullar me lembra o famoso verso de Fernando Pessoa: tudo vale a pena, quando a alma não é pequena. E me faz querer seguir em frente. Sempre.

Poesia pra quê?
Para nos dar um impulso e nos fazer seguir adiante.

De volta à poesia


Em 1999 sofri um grave acidente. Estava indo para João Monlevade e o carro capotou. Eu fui jogada para fora, tive traumatismo craniano, fiquei sem falar e sem andar por um tempo. Salvei-me por um milagre. E, contrariando a previsão dos médicos, recuperei-me com uma rapidez impressionante. Depois de 28 dias já estava de volta às aulas (cursava jornalismo na UFMG).

Morava apenas com meu irmão em BH e fazia tudo sozinha, pegava ônibus, ia para aulas à noite, ia para a oficina de dramaturgia no Grupo Galpão.

Depois disso, não sei o que aconteceu, mas fiquei um tempo sem escrever poesias... Talvez esperando as coisas voltarem ao lugar dentro da minha cabeça. Aí logo depois eu conheci o Paulo, meu ex-marido (tinha apenas dois meses do acidente e ainda estava um pouco vesga, hoje não tenho sequela nenhuma, graças a Deus), fiquei noiva, engravidei, juntei, formei, comecei a correr atrás do pão de cada dia... E a poesia foi ficando pra depois.

Quando João nasceu, comecei a escrever para crianças. Escrevi "O Menino Revirado", "De Grumete a Saci todo mundo passou por aqui", "A Coroação de um pé de chinelo". Tudo isso em 2002. Então fui correr atrás de editoras e vieram as constantes negativas. Desisti por um tempo, atropelada pela correria do dia-a-dia, e parei de escrever de novo.

Na verdade, na verdade, nunca parei de escrever totalmente, porque a escrita faz parte do meu trabalho e acaba sendo o início e o fim de tudo. Mas dei um tempo naquilo que brotava de dentro de mim. Enquanto isso fui criando um senso crítico exagerado, uma auto-crítica feroz, e passei a não gostar até mesmo das coisas que tinha escrito antes de 1999.

Até que, no ano passado, lancei o livro "O Menino Revirado" e isso me deu um novo gás. Comecei a deixar as coisas fluírem e elas voltaram com força total. Aliás, Total é o nome do novo livro de poesias que estou acabando de escrever. Depois vou postar algumas aqui, e também algumas que escrevi antes do acidente.

As poesias são como bolhas de sabão num dia de inverno. Você dá o sopro inicial e elas voam contra o vento, revelando luzes e coisas que ninguém nunca imaginou existir.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Pra quê poesia?

Sofia, pra quê poesia?
As crianças já estão dormindo.
Seu salário já está na conta.
Todas as coisas estão no seu devido lugar.
Sofia, pra quê poesia?
Sua saúde vai bem.
Sua carreira vai de vento em polpa.
Em seu armário roupa já não cabe mais.
Poesia pra quê?
Se a sua imagem no espelho lhe convém.
Se você não é todo mundo, nem tampouco um zé ninguém.
Se todas as questões de aritmética, filosofia, física, história e economia você já respondeu com maestria. E até ganhou um dez.
Poesia pra quê? Pra quê poesia?


... (...) ... (...) ... (...) ...

Poesia pra fazer voar a pluma
Poesia para abrilhantar um dia de chuva
Poesia para dar rubor às faces
Poesia para endiabrar embolorados enlaces
Poesia para saciar a fome
Poesia para renomear os nomes
Poesia para tirar as coisas do seu lugar
Poesia para cego voltar a enxergar

... (...) ... (...) ... (...) ...

Ora, poesia pra quem?
Poesia pra mim, pro mundo inteiro.
Poesia pra você.

Seja bem vindo